- Querida, vamos sair um pouco, assim, você se distrai.
- Por quê?
- Eu estou sentindo a sua dor e confesso que não quero nem a
minha. Talvez você precisasse de um pouco mais de tempo e eu tenha me
precipitado. Fui egoísta, mas já esperei demais. Eu não quero que toda essa
espera seja um fracasso. Venha vamos caminhar, mesmo que seja em silêncio, como
você gosta. Juro que serei um túmulo.
- ...
- Não precisa deste olhar. Eu sabia que seria assim, sempre
soube. Só quero conquistar o meu lugar.
- ...
- Eu pedi que você não entrasse... Prometa, que não vai mais
entrar e nem responder a nada que te machuque, enquanto estiver aqui. Eu não
quero que tenha acesso a nada que machuque você, me entende? Com quem você
falava?
- Era um pedido para adicionar, mas só confirmei... E sai.
- Olha minha querida, eu não posso e não tenho o direito de
brigar com você por nada, por nada mesmo, porque sempre fiz parte da sua vida e
sei de tudo. Conheço a sua franqueza, a sua entrega, mas gostaria que não
sofresse mais. Eu sei que estas alternâncias virão, até que se recupere
totalmente e é isso que me importa. Parou para pensar, que tudo é novo para
você? E que já tem um tempo que você vem passando por mudanças radicais e
inesperadas? Até a nossa condição, agora, é nova para você. E apesar de você se
fazer forte, é minha gotinha de orvalho, que tanto amo. A minha gotinha de
orvalho, que quando está feliz, espalha pelo universo, quando está triste, se
recolhe na sua intimidade, não deixando que ninguém penetre e joga para o papel
e para o mundo desconhecido. Eu quero lhe perguntar...
- Sim.
- Por que você não publicou o que escreveu, quando foi para
lá? Ficaram tão bonitos.
- Não sei...
- Posso dizer o que pensei?
- Pode.
- Você não quis misturar a vida nova com a vida velha...
- Pode ser...
- É como um acidente fatal, vidas interrompidas bruscamente.
- É.
- Quem fica, sofre, até que o tempo transforme em uma doce
saudade ou numa nostálgica lembrança.
- É.
- Você se encontra numa transição.
- Sim.
- Venha, vamos andar. Ver coisas bonitas e naturais, pegar
energias para você, dona naturex. Vou levar você ao parque.
- Ao parque?
- Sim. Lá tem balanços espalhados pelas árvores e nesta hora
está vazio. Vou lhe balançar, “lítero-real.”.
- Palavra nova?
- Aprendi com minha clientela.
- O que significa?
- No sonho e na realidade.
- Não existe no dicionário.
- Não, mas se brincar constará na próxima revisão.
- Vai demorar...
- Vai. Mas até lá, estará na boca do povo.
- ...
- Vem... Me abraça! Quero ir bem abraçadinho com você.
Sonetos ao Jovem 30,00