A fome do seu ventre é outra,
é a fome da cria que não veio.
É a fome do embalar nos braços.
Embalar que ficou com outra...
O embalar do sugar no seio,
O embalar dos olhos nos traços.
No seu ventre fica a fome
De puro amor que nunca mereceu,
E quando percebeu o deserto era seu;
Uma casa tão escura que jamais recebeu,
O fruto de um amor que há muito jubilou;
Com outra, noutra mesa é que se come.
Viva a vida que morta segue,
Enquanto noutro espaço a vida vibra;
Tem o riso cristalino do fruto d’outro amor,
Siga a limpar e lavar e o passar não negue.
É assim que seguirá – ventre seco - jamais parirá.
É a vida a condenar e as correntes lhe arrastam onde for.
Morde os beiços, aperta os olhos,
A ira companheira inseparável.
Maldade intrínseca e prevalente.
Deus é justo, a natureza é cria divina.
Tudo é conforme dádivas merecidas.
Por conquistas e por justiça.
Incapaz de amor grandioso,
Cultiva a falsa sinceridade,
Alimenta a maledicência.
Uma cria não vem ao arenoso.
Não se tira leite de pedra.
Não se alimenta de ventre seco.
O seu ventre seco, não gera vida.
Não gera amor, não gera paz.
Vive na aridez da vida e da alma.
É como olhar para sua palma,
Não tem traços, apenas linhas;
Deformada palma, deformada alma.
Olhos caídos não enxergam nada.
Pálpebras despencam sobre o olhar,
Saltados globos oculares e embaçados,
É o fim sem o começo – é orvalhar.
Orvalhar seco, interno e sem salvar.
É a natureza – é a mão de Deus!
E, mesmo assim, a lição passa em branco.